O El País revelou recentemente que Mourinho, antes da segunda mão,
terá dado uma palestra à equipa que fez “com que os jogadores duvidassem de si
próprios”, ao dar-lhes “a entender” que a reviravolta era uma missão impossível.
Acrescenta ainda o mesmo jornal que, já no autocarro, teve de ser Casillas a ir
tentar mentalizar vários dos seus colegas que era possível lutar pela vitória. E
o El País sublinha ainda que, em Setembro, terá sido o próprio guarda-redes a
“advertir Mourinho de que nunca mais secundaria uma estratégia como a que ele
vira em Camp Nou”.
O Real perdeu depois a Supertaça para o Barcelona, mas no
primeiro jogo, em Madrid, conseguiu 48% de posse de bola, a menor diferença até
hoje. Empatou esse jogo (2-2), mas foi derrotado (3-2) na Catalunha. Neste
último jogo, Mourinho voltou a arriscar mais do que se esperava, mas foi traído
por um “furacão” chamado Messi.
Seguiu-se, em Dezembro, um embate que voltou
a deixar pesadas sequelas psicológicas no madridismo. O Real perdeu não só a
hipótese de alargar para nove pontos a diferença na liderança como acabou
triturado (1-3) por um Barcelona que arriscou jogar com apenas três defesas.
Findo o jogo, contou também o El País, Mourinho terá entrado furioso no
balneário, gritando a quem o queria ouvir: “Não quereis jogar ao ataque? Pois aí
está o resultado...”.
Por isso, poucos estranharam que, a 18 de Janeiro, na
primeira mão dos quartos-de-final da
Taça do Rei, Mourinho tivesse feito
regressar Pepe ao miolo, para assumir novamente o “trivote”. Mais: deu a
titularidade a Ricardo Carvalho, que não jogava há quatro meses, e deixou de
fora Marcelo, muito querido pelo presidente e pelos adeptos, para dar a
titularidade a Fábio Coentrão. Mas a maior surpresa foi a titularidade de
Altintop. O Barça voltou a dominar (71% de posse de bola...) e a ganhar, com
Pepe a ficar ainda com o papel de demónio depois de ter sido apanhado pelas
câmaras de tv a pisar a mão de Messi.
Mourinho foi então atacado de todos os
lados. A começar pelos que sempre lhe torceram o nariz, como é o caso do
director adjunto da Marca, Santiago Segurola. “A Mourinho, a quem não se lhe
conhece uma ‘ruleta’ ou uma ‘bicicleta’, deu-lhe para se comparar a Ronaldo,
Zidane e Cristiano. A comparação tem uma vertente freudiana que explica o seu
descomunal ego”.
Bem pior para Mourinho acabou por ser uma notícia publicada
no diário Marca (normalmente muito próximo da presidência do Real Madrid), em
que é revelada uma conversa entre Mourinho e o sub-capitão Sérgio Ramos, acusado
pelo treinador de não ter respeitado as ordens para marcar Puyol. O central
defende-se e acaba por questionar a falta de trajectória futebolística de
Mourinho. A revelação deste incidente serviu como um comprovativo para a relação
complicada que se diz existir entre o treinador e vários jogadores espanhóis, a
começar por Casillas, acusado de ser quem passa as informações para o
exterior.
“Há jogadores que lhe estão a começar a perder o respeito
profissional. Para ganhar ao Barça, faz falta mais do que apostar no
contra-ataque”, pode ler-se no El País. Outras notícias falam ainda no suposto
favorecimento do grupo de jogadores representado pelo empresário português Jorge
Mendes. Foi ainda acusado de não saber utilizar equipas de qualidade e de acabar
por eleger sempre os jogadores mais lutadores em vez dos mais tecnicistas.
Questionou-se até a sua capacidade de estimular os jogadores, algo em que foi
considerado um semi-Deus noutras paragens. O treinador-manager mais poderoso na
história do Real Madrid via-se assim contestado por todos os lados e sem o
respaldo dos adeptos que, pela primeira vez, o assobiaram num jogo.
Apesar de
parecer continuar a ter o apoio incondicional de Florentino Pérez, Mourinho
optou por fazer o que foi visto como uma concessão à sensibilidade do balneário
e, claro, dos adeptos: juntou Kaká e Ozil na mesma equipa e montou uma
estratégia coerente, equilibrada, mas ao mesmo tempo ambiciosa. Com isso,
mostrou que, afinal, também escuta o madridismo. Mas, ao mesmo tempo, mostrou
que não se deixa intimidar totalmente, ao manter a titularidade de Pepe, perante
o que parecia ser a vontade de boa parte dos dirigentes...
Mourinho é um
treinador de desgaste rápido. Percebeu-se isso no FC Porto, como já se tinha
percebido no Chelsea ou no Inter, onde esteve zangado e para sair a meio da
época em que foi campeão europeu. Não é fácil conviver com as suas
idiossincrasias, que ficaram mais visíveis perante a incapacidade de contrariar
o domínio e o futebol champanhe de Guardiola. Mas em Madrid há também muita
gente que sabe que vale a pena aturá-lo para conseguir recuperar o título...
Esta é parte da crónica que o jornalista Bruno Prata, publicou no diário o público, em que o mesmo apresenta os seus pontos de vista, sobre as idiossincrasias e os méritos de Mourinho.
Para ler na ìntegra esta crónica, siga o seguinte link;http://desporto.publico.pt/noticia.aspx?id=1530977
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