Os grandes negócios do futebol brasileiro começam em Montevidéu,
passam por paraísos fiscais e terminam em um dos grandes europeus. Os lucros
caem nos bolsos de intermediários cuja cara, você dificilmente já viu. Esse
futebol sem rosto, hoje é mais influente que o dos craques. Menos vistoso, mas
mais lucrativo.
PLACAR foi à caça desses representantes do futebol das
profundezas. Eles arranjam o atleta, viabilizam a operação financeira, criam
atalhos para o clube ter menos despesas, arranjam investidores e formam fundos
de investimentos.
“Em troca de uma ajuda de 8 000 dólares mensais, assinei
documentos sem ler por dez anos”, afirma Fermín Vega Torres, ex-presidente do
Central Español — um clube “fantasma” do Uruguai, que servia apenas para
registrar os atletas do empresário uruguaio Juan Figer. “Quando me recusei a
assinar transferências, um sobrinho do Figer me ameaçou.” Logo após a recusa,
os negócios passaram a ser feitos em outro clube “fantasma”, o Rentistas.
Juan Figer é uma figura discreta (odeia dar entrevista) que atua
no Brasil desde 1968, quando negociou o lateral Pablo Forlán com o São Paulo.
Faz parte de um grupo de cinco empresários que controla os grandes negócios do
futebol — como o iraniano Kia Joorabchian, o israelense Pini Zahavi, o
argentino Gustavo Arribas e o português Jorge Mendes. Hoje atuam cada um no seu
pedaço. Mas podem estar juntos se a transação valer a pena. Em 2004, por
exemplo, todos eles foram a Buenos Aires para tratar de uma sequência de
transações com o River Plate. Arremataram Maxi López, Lucho Gonzalez e Javier
Mascherano.
Jorge Mendes, atuou sem grande brilho como jogador, em clubes da
terceira divisão portuguesa, A sua grande jogada aconteceu em 1996, quando
criou a Gestifute. Seus negócios no Brasil incluem a coordenação da carreira do
técnico Mano Menezes, em parceria com Carlos Leite. “Mendes tem relações, que
nenhum dirigente brasileiro ou português tem para negociar atletas”, diz um
agente com trânsito nos bastidores da bola.
Mendes passou a encontrar concorrência em Portugal. Em um ano, Kia
Joorabchian fez dois negócios certeiros; As vendas dos brasileiros Ramires e
David Luiz do Benfica para o Chelsea. Só nessas ações, movimentou 37 milhões de
reais.
Seu braço direito é Giuliano Bertolucci, aliado desde a
MSI-Corinthians. Seu maior rival, o argentino Gustavo Arribas, com boas
ligações no Boca Juniors. Arribas opera a partir de outro “fantasma” — o
Deportivo Maldonado, também do Uruguai. Tinha trânsito com os principais
empresários.
“Hoje opera um esquema independente, o que causou atritos com
ex-parceiros”, diz um agente. Kia chegou a acusá-lo de roubar o Corinthians.
“Ele pegou o Sebá Dominguez e transferiu para o América do México sem pagar”,
disse. Arribas defendendo-se: “Se tivesse roubado o Corinthians, não teria
intermediado a vinda do Thiago Heleno”.
Arribas manteve parceria com o israelense Pini Zahavi, considerado
um lenda no meio. A criatividade com os negócios, valeu a Zahavi o apelido
“Senhor Conserta-Tudo”. “É um dos donos do futebol no mundo”, define Wagner
Ribeiro, empresário de Neymar e parceiro de Pini no Brasil.
O israelense opera uma teia de empresas localizadas em paraísos
fiscais. Sua grande realização foi ajudar o bilionário russo Roman Abramovic,
na compra do Chelsea. Mantém base na América do Sul, desde a MSI-Corinthians e
opera por meio de uma salada de empresas instaladas nas Ilhas Virgens
Britânicas e em Gibraltar.
“Essa cascata de empresas off-shore, embaralha o
nome dos verdadeiros donos do dinheiro”, afirma o promotor José Reinaldo
Carneiro, do Grupo de Apoio ao Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de São
Paulo. Práticas condenadas pela Fifa e pela Justiça. Mas nada que o Senhor
Conserta-Tudo não resolva em seu escritório no 34º andar de um edifício em Tel
Aviv.
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